"Adolescer"

Não queria envelhecer
Preferiria "adolescer"
E novamente poder sentir
Tudo aquilo que já vivi

Acordar de paixão
Anoitecer na desilusão

Quão amargo doce é o gosto do esquecimento
Alegrias e saudades carregadas sem alento

Sentimentos intensos
Verdades absolutas
Conflitos tão saborosos

"Adolescer" é bem melhor que envelhecer.

VIAGEM

Arrumo as malas
Para voltar
É que as vezes me vou
Saio
Me distraio
Me perco
Vou para outro espaço
Como se viajasse
Me livrasse
De mim mesma
Das minhas angústias
E passeasse
Por um tempo
Que já não existe mais.

Tardes de agosto

O céu ofuscado pela fumaça das queimadas
O vento arrastando as fuligens nas calçadas

Um mormaço seco batendo na face
Olhos umedecidos, parados, quase em transe

Na incerteza do partir, ficar
Seu toque faz meu corpo petrificar

Não há mais tempo para desculpas
Meu mundo não se move mais sob os seus caprichos

Seu nome cravado em minha pele
Marcas que o tempo não apagará

A imagem de sua ausência
Parece um fantasma na escuridão

Se no outono soubesse que o inverno terminaria assim
Não teria deixado que fizesse o que fez de mim

Não teria mergulhado nesse mar de mentiras
Nem voado pelos céus da ilusão

Um romance insípido
Que se desfez a míngua
Me restou somente o gosto amargo e cinza do agosto.
Nan

AO VENTO

Vai o vento
Faz reboliço
Traz mormaço
Traz sanhaço
Faz inchaço
Nos pés descalço
Dos trabalhadores que lidam
A lida do dia no espaço
Entre o sol nascer
e o sol no laço
Arrematado pela noite
Pela lua
que de tão cheia me causa espanto
Dei-lhe meu pranto
Para desfazer seu encanto
E permitir que me devolva
O meu dia
O meu sol
O meu vento
Que me voam os pés
que me voam os pensamentos
Que me levam de volta
aos sonhos que vagueiam lentos

Fases

Todo presente virará passado
Assim que o futuro, em presente virar.

O que é ferida
Cicatriz será
E aquilo que é pele sã
Em ferida poderá se tornar.

Se sou eu,
ou se é você
tanto faz,
como tanto fez.

Será dor
ou estupidez

O destino traçado
de nós dois
assim o fez.

Nan